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A cruz (†) do grego Staurós, do latim Crux, é uma figura geométrica formada por duas linhas ou barras que se cruzam em um ângulo de 90°, dividindo uma das linhas, ou ambas, ao meio. As linhas normalmente se apresentam na horizontal e na vertical; se estiverem na diagonal, a figura é chamada de sautor, ou aspa..
A cruz é um dos símbolos humanos mais antigos e é usada por diversas religiões, principalmente a cristã, embora nem todos os cristãos a usem como símbolo, pois consideram que Jesus Cristo foi pregado em um madeiro. Ela normalmente representa uma divisão do mundo em quatro elementos (ou pontos cardeais), ou então a união dos conceitos de divino, na linha vertical, e mundano, na linha horizontal (Koch, 1955).
Na subcultura Gótica, este símbolo geralmente é a representação do sofrimento, dor ou angústia.
Provavelmente esta definição tenha o sentido original, já que em Roma antes mesmo da morte de Cristo, era usado para esta finalidade. Uma das formas de condenação à morte consistia em atar ou pregar condenados em uma cruz, fazendo os mesmos padecer terrivelmente.
Um dos símbolos mais utilizados na religião é a cruz. The New Encyclopædia Britannica (A Nova Enciclopédia Britânica) chama a cruz de "o principal símbolo da religião cristã". Num julgamento em tribunal na Grécia, a Igreja Ortodoxa Grega chegou a afirmar que aqueles que rejeitam a "Santa Cruz" não são cristãos.
O instrumento da morte de Jesus é mencionado em textos bíblicos como Mateus 27:32 e 40. Ali, a palavra grega stau·rós é traduzida por "cruz" em várias Bíblias em português, e o costume dos Romanos era a crucificação.
"Encontraram-se diversos objetos, datando de longos períodos anteriores à Era Cristã, marcados com cruzes de feitios diferentes, em quase cada parte do mundo antigo. A Índia, a Síria, a Pérsia e o Egito produziram todos inúmeros exemplos, ao passo que em quase toda a parte da Europa se encontraram numerosos casos, datando desde a parte posterior da Idade da Pedra até os tempos cristãos. O uso da cruz como símbolo religioso em tempos pré-cristãos e entre povos não-cristãos provavelmente pode ser considerado como quase universal, e em muitíssimos casos ligava-se a alguma forma de culto da natureza." – The Encyclopœdia Britannica, 1946, Vol. 6, página 753.
A palavra grega traduzida por cruz em muitas versões modernas da Bíblia ("estaca de tortura" na NM) é stau-rós. No grego clássico, esta palavra significa meramente uma "estaca reta", ou "poste". Mais tarde, veio também a ser usada para uma estaca de execução com uma peça transversal. Porém alguns historiadores argumentam que stau-rós também significa empalação, enforcamento e estrangulamento, portanto o significado de "estaca" não significa que Cristo teria sido morto em uma.
The imperial Bible-Divtionary reconhece isso dizendo: "A palavra grega para cruz, [stau. rós], devidamente significa uma estaca, um poste reto, ou pedaço de ripa, em que algo podia ser pendurado, ou que poderia ser usado para estaquear [cercar] um pedaço de terreno… Até mesmo entre os romanos a crux (da qual se deriva nossa cruz) parece ter sido originalmente um poste reto" – Editado por P.Fairbairn, (Londres, 1874), Vol. I p.376.
Concernente aos cristãos do primeiro século, a obra History of the Christian Church diz: "Não se usava o crucifixio e nenhuma representação material da cruz."-(Nova Iorque, 1897). J.F.Hurst, Vol. I, P.366. Durante o primeiro século do cristianismo, a cruz era raramente usada na iconografia cristã, uma vez que representa propositadamente um doloroso método de execução pública. O Ichthys, ou símbolo do peixe, era mais utilizado pelos primeiros cristãos.
No entanto, o símbolo da cruz já foi associado aos cristãos no segundo século, como é indicado nos argumentos anticristãos citados por Octavius [1], capítulos IX e XXIX, escrito no final do mesmo século ou no início do próximo[2], até o início do terceiro século a cruz tinha-se tornado tão estreitamente associada a Cristo que Clemente de Alexandria, que morreu entre 211 e 216, usou a ambigüidade da frase τὸ κυριακὸν σημεῖον (o sinal do Senhor) para significar cruz, pois a epístola apócrifa de Barnabé, tem o número 318 (em grego numerais, ΤΙΗ) em Gênesis 14:14 foi interpretada como uma numerologia para cruz (T, na posição vertical) e de Jesus (ΙΗ, as primeiras duas letras do seu nome ΙΗΣΟΥΣ, a posição dos 18), [3] e seu contemporâneo Tertuliano designou os crentes cristãos como crucis religiosi, ou seja "devotos da Cruz."[4]Em seu livro De Corona, escrito em 204, diz Tertuliano diz que já era uma tradição para os cristãos fazer em sua testa o sinal da cruz.[5] Muitos estudiosos consideram que a cruz teria sido adotada pelo cristianismo por seus próprios méritos, devido às suas conotações metafísicas, porém alguns historiadores sugerem que a cruz surgiu originalmente de um símbolo pagão:
«A forma da [cruz de duas vigas] teve sua origem na antiga Caldéia e foi usada como símbolo do deus Tamuz (tendo a forma do Tau místico, a letra inicial de seu nome) naquele país e em terras adjacentes no Egito. Por volta dos meados do 3ºséc. A.D, as igrejas ou se haviam apartado ou tinham arrematado certas doutrinas da fé cristã. A fim de aumentar o prestígio do sistema eclesiástico apóstata, aceitavam-se pagãos nas igrejas, à parte de uma regeneração pela fé, e permitia-se-lhes em grande parte reter seus sinais e símbolos pagãos. Assim se adotou o Tau ou T, na sua forma mais freqüente, com a peça transversal abaixada um pouco, para representar a cruz de Cristo.»
(An Expository Dictionary of New Testament Words (Londres, 1962), W.E.Vine, p.256)
A Enciclopédia Judaica diz:
«A cruz como um símbolo cristão (…) entrou em uso pelo menos no segundo século (ver "apost. Const." Iii. 17; epístola de Barnabé, XI. -xii; Justin, "Apologia", i. 55-60; "Dial. cum Tryph". 85-97) e à marcação de uma cruz sobre a testa e do tórax foi considerado como um talismã contra os poderes dos demônios (Tertuliano, "De Corona", iii; Cipriano, "Testemunhos", xi. 21-22; Lactantius, "Divinae Institutiones," iv. 27, e outros). (…)»
Referências
- Octavius
- The Worship of the Dead (London, 1904), by Colonel J. Garnier, p. 226.
- Stromata, book VI, chapter XI
- Apology, chapter XVI. Nesse texto Tertuliano diferencia Cruz de Estaca.
- De Corona, capítulo 3.
- Koch, Rudolf (1955).The Book of Signs. Dover, NY. ISBN 0-486-20162-7.