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Quando a religião é uma doença

(Primeiro artigo)

O inspirado apóstolo São Tiago define religião da seguinte forma: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”.Tiago 1:27.

A definição é única na Bíblia e possui um peso doutrinário e hermenêutico decisivo. Entende-se religião, em seu sentido vulgar, como a associação a determinado segmento que professa crença no sagrado, pautado ou não em um livro de regras e/ou normas. Meu objetivo não é explicar a etimologia da palavra religião, algo já completamente exaurido ao longo de 2.000 anos. Sigmund Freud , ateu confesso, todavia, aqui não me compete julgá-lo quanto sua opção espiritual , diz ser a religião uma ilusão, uma doença que leva o homem a conduzir-se de forma contrária, na maioria das vezes a princípios que professa, na maioria das vezes, principios de paz e amor. Em nome da religião mata-se, fere-se, rouba-se, agride-se, tripudia-se etc. O ser humano possui necessidade disso que vulgarmente entende-se como religião, segundo Freud, transfere-se o ódio para uma outra instância, a saber, o ódio religioso, comprova-se isso, nos milhões e milhões mortos em nome da igreja seja ela romana, protestante, islâmica e ficarei apenas com essas três, por possuirem, como afirmam os antropólogos, a mesma origem, Abraão. O ódio religioso é baixo, vulgar, ignorante, cruel, impiedoso etc. São Tiago é tão preciso no que concerne a definir a praticidade da religião que , imediatamente, vemos que a afirmação do apóstolo está contrário sensu ao que existe hoje no mundo. Quero enfatizar o caso cristão. Jesus nasceu em um estábulo. O Mestre trabalhou, sofreu, ajudou milhares e milhares , não possuia lugar para reclinar sua cabeça e ao morrer, não possuia lugar para depósito do seu corpo, foi necessário um bom homem chamado Arimatéia, comprar-lhe lugar dígno para que fosse sepultado, por curtíssimo tempo, graças a Deus. Os representantes chamados, assim se dizem, de Jesus, possuem até bancada na Câmara e Senado Federal e convencem seus membros, das suas igrejas, que fazem um trabalho para Deus tornando-se parlamentares. Mentira. Citar Daniel como exemplo de político, digo explicitamente é algo desprovido do menor conhecimento bíblico. Bancada protestante, evangélica, seja lá o perfume que deitem sobre o “sepulcro caiado” que se afigura, é uma blasfêmia. Cristo foi seguido por 12 apóstolos, pescadores, desempregados, um coletor de impostos e um traidor. A política é uma ignomínia que se traveste “serviço para Deus”. Em dados momentos dou razão a Freud , pois o li e desafio um estudante sério da Bíblia  a mostrar-me que a insânia de se ter um representante de igreja em um parlamento é um serviço para Deus. Aqui não poupo Lutero e nem Calvino, assim como não hei de poupar o residente no magnífico edifício , situado em La Piazza di San Pietro no Vaticano. O homem após a queda no Éden, precisa de uma “cobertura” que chame de religião. Há milhares e milhares de seitas e segmentos e hão de aparecer muitas e muitas ainda. Para concluir esse primeiro artigo, deixo a seguinte reflexão:

“Com a Inquisição, um terror invisível paira sobre a sociedade: a hipocrisia torna-se um vício nacional e necessário: a delação é uma virtude religiosa; a expulsão dos judeus e dos mouros empobrece as duas nações (Espanha e Portugal), paralisa o comércio e a indústria e dá um golpe mortal na agricultura em todo o Sul da Espanha; a perseguição aos “cristãos novos” faz desaparecer os capitais; a Inquisição atravessa os mares e, tornando-nos hostis aos índios, impedindo a fusão dos conquistadores e dos conquistados, torna impossível o estabelecimento duma colonização sólida e duradoura; na América, despovoa as Antilhas, apavora as populações indígenas e faz do nome cristão um símbolo da morte; o terror religioso, finalmente, corrompe o caráter nacional e faz de duas nações generosas, hordas de fanáticos endurecidos, o horror da civilização.”

Antero de Quental (1842-1891)

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